As told by Jack the Cat

Today, dear friends, I demonstrated—undeniably, unequivocally—that I am a gentleman. A scholar. A cat of poise and etiquette. A diplomat, even. But let me not leap to the finale before I’ve set the scene, for what is a tale without a touch of mystery and a smattering of suspense?
The morning began with a promising omen: the bedroom door was open. Not wide open, mind you, but ajar in that tantalizing way that invites both curiosity and caution. Between me and the rest of the house, however, stood the dreadful black screen—a gate, a veil, a laughable excuse for a barrier meant to contain my magnificence. It rattles with the arrogance of temporary solutions. But we’ll get to that.
Let us rewind a bit. Mommy has been home for what feels like an eternity. Normally, she disappears each day—off to a place she calls “work,” though I can’t imagine what sort of job doesn’t involve naps or sunbeams. She always comes back, though not always bringing anything of note. Just bags that smell strange and stories she doesn’t share. But lately, she’s remained with us, and I’ve used the opportunity to expand my knowledge of the house. What Smores does with her time, I can only guess. (My theory: ritual summoning and naps.)
I suspect our human harbors dreams of reconciliation, of purring unity, of two cats sunbathing in tandem. Sweet, naïve hooman. She attempts what she calls “introductions,” though with all the subtlety of a clumsy goose tripping over its own feet.
Still, I decided—nay, chose—to rise above the chaos and set an example.
This morning, when Smores approached the screen, I offered her an olive branch. I showed her the Way of the Gentleman: no glaring, no twitching ears, no vocal threats—only light conversation and posture of peace. I even demonstrated the 45-degree head turn, a classic feline sign of respectful disengagement. But what did she do? She stared. Unblinking. Like a statue of judgment carved from disdain.
Honestly. She should be ashamed.
Mommy brought us treats then, as if snacks could solve centuries of feline history. I, of course, ate with grace and parcimony. Smores? She attacked the kibble like she hadn’t been fed since kittenhood. Dreadfully uncouth. Afterward, she retreated for a nap, and I was granted parole from my chamber.
But fate, that sly trickster, had one more twist in store.
Later that day, I returned to my room for a nibble, and as the door clicked shut behind me, I realized the hooman and Smores had ventured to that sun-kissed paradise we call the Back Porch. Without me.
I had demonstrated my decorum, my self-restraint, my growth. And yet, there I was—behind a door once more. So I called out. Politely, but firmly. Of course, humans are hard of hearing, and I could hardly rely on Smores to plead my case.
So, I took matters into my own paws.
Yes, dear friends, I escaped. I snuck under that feeble black screen with the grace of a shadow on velvet, a whisper of wind. And I was free.
Triumphant, I ascended the stairs and crossed the threshold. But alas, my noble emergence was met with betrayal. Smores spotted me and immediately assumed the position of war. Her eyes narrowed, her tail bristled, her ears—a tragedy. I approached with words of calm and serenity, but she met me with contempt.
Were it not for Mommy’s swift intervention, I shudder to imagine the consequences. Smores was granted the spoils of the porch, and I—I, the gentleman—ran downstairs to the basement in a flurry of fur and fear, seeking sanctuary. The human shut the door behind me, locking me in exile.
So now I sit, composing this from the shadows of the basement. I do not know what to think. I only know that I tried.
And that, dear friends, must count for something.
Until next time—
Yours in refined bewilderment,
Jack

A Tentativa Diplomática de um Cavalheiro (ou, O Curioso Caso do Ecrã Preto)
Contado por Jack, o Gato
Hoje, caros amigos, demonstrei indiscutivel e inequivocamente que sou um cavalheiro. Um estudioso. Um gato de postura e etiqueta. Um diplomata, até. Mas não me deixem saltar para o final antes de vos contar o início, pois que história seria esta sem um toque de mistério e uma pitada de suspense?
A manhã começou com um presságio promissor: a porta do quarto estava aberta. Não escancarada, atenção, mas entreaberta naquele jeito tentador que convida tanto à curiosidade como à prudência. Entre mim e o resto da casa, porém, erguia-se a temível barreira de rede preta, um portão, um véu, uma tentativa risível de barreira destinada a conter a minha magnificência. Ele estremece com a arrogância das soluções temporárias. Mas já lá vamos.
Recue-se um pouco. A Mamã tem estado em casa há já algum tempo. Normalmente, ela desaparece todos os dias, para um sítio a que chama “trabalho”, embora eu não consiga imaginar que tipo de ocupação não envolva sestas e feixes de sol. Costuma voltar, é certo, embora nem sempre traga algo digno de nota. Apenas sacos com cheiros estranhos e histórias que não conta. Mas ultimamente, ela tem permanecido por cá, e eu aproveitei a oportunidade para expandir o meu conhecimento da casa. O que a Smores faz com o seu tempo, só posso adivinhar. (A minha teoria: rituais felinos e sestas intermináveis.)
Suspeito que a humana acalenta sonhos de reconciliação, de união ronronante, de dois gatos a apanhar sol lado a lado. Doce, ingénua humana. Tenta aquilo a que chama de “introduções”, com a subtileza de um ganso desajeitado a tropeçar nos próprios pés.
Ainda assim, decidi, ou melhor, escolhi, elevar-me acima do caos e dar o exemplo.
Esta manhã, quando a Smores se aproximou da barreira de rede, estendi-lhe um ramo de oliveira. Mostrei-lhe o Caminho do Cavalheiro: nada de olhares fixos, nem orelhas para trás, nem ameaças vocais, apenas conversa leve e uma postura de paz. Até demonstrei a clássica inclinação da cabeça em 45 graus, um sinal felino de desengajamento respeitoso. E o que fez ela? Ficou a olhar. Sem pestanejar. Como uma estátua de julgamento esculpida em desdém.
Francamente. Devia corar de vergonha.
A Mamã trouxe-nos então petiscos, como se biscoitos pudessem resolver séculos de rivalidades felinas. Eu, claro, comi com elegância e parcimónia. A Smores? Atirou-se à comida como se não comesse há anos. Uma lástima. Depois, retirou-se para a sua sesta e eu fui autorizado a sair do quarto.
Mas o destino, esse malandro, ainda tinha uma última reviravolta reservada.
Mais tarde, regressei ao quarto para um petisco e, mal a porta se fechou atrás de mim, percebi que a humana e a Smores tinham ido para o paraíso soalheiro que chamamos o Alpendre das Traseiras. Sem mim.
Tinha demonstrado o meu autocontrolo, a minha elegância, o meu crescimento. E ali estava eu, novamente atrás de uma porta. Chamei. Educadamente, mas com firmeza. Mas como sabemos, os humanos ouvem mal, e não podia contar com a Smores para interceder em meu nome.
Então, tomei o destino nas minhas próprias patas.
Sim, caros amigos, escapei. Passei por debaixo daquele frágil ecrã preto com a graça de uma sombra em veludo, um sussurro do vento. E estava livre.
Triunfante, subi as escadas e cruzei o limiar. Mas, ai de mim, o meu nobre surgimento foi recebido com traição. A Smores viu-me e entrou imediatamente em modo de defesa. Os olhos semicerrados, o rabo em brasa, as orelhas para trás, uma tragédia. Aproximei-me com palavras de calma e serenidade, mas ela não quis saber.
Se não fosse a intervenção rápida da Mamã, não sei o que teria acontecido. A Smores ficou com o prémio da varanda, e eu, bem eu, o cavalheiro, corri pelas escadas abaixo até à cave, em pânico, à procura de refúgio. A humana fechou a porta atrás de mim, trancando-me no exílio.
E agora aqui estou, a escrever-vos das sombras da cave. Não sei bem o que pensar. Só sei que tentei.
E isso, caros amigos, tem de valer alguma coisa.
Até à próxima.
Com sincera perplexidade refinada,
Jack



