
Lembras-te de me contares acerca das luzes de dentro das casas? De como ao passares por elas, sentias uma saudade de qualquer coisa, que não conseguias definir? Tenho-me lembrado muito disso ultimamente, talvez porque me sinta do lado de fora, sem casa. Este sentimento de melancolia, de não pertença, tem-me preenchido muito.
Hoje estou na minha sala, de lareira acesa, mas vejo ao longe as luzes quentes de outra casa e sinto frio. Como parece quente aquela casa…
Imagino a familia a preparar-se para jantar, as criamças à pressa a fazer os deveres, porque, por causa das brincadeiras, se atrasaram.
A mãe chama “p’rá mesa!” e cada um termina o que está a fazer, vai lavar as mãos e dirige-se para a sala de jantar, mas não sem que se ouça outra vez: “p’rá mesa!” seguido de um “Vão comer tudo frio, se não se despacham!”
E há cheiros de comida saborosa e há risos de felicidade e vozes que falam com entusiasmo acerca do dia.
E há aquela sensação contrastante de desalinho e de calma próprias de uma casa com Vida.
É assim que imagino aquela casa, da luz quente… era assim contigo, também?