Era um edifício muito antigo, com muitas histórias para contar, mas sem ninguém para as ouvir. Várias pessoas passavam por ele, mas já não se detinham para elogiá-lo, como acontecia quando era uma nova construção.
Que tempos esses! Como tudo mudara desde então! As pessoas eram mais cordiais, mais amáveis e tinham tempo para uma conversa. Tinham tempo para os outros, tempo para a vida.
Um dia estava o edifício a pensar nos tempo idos, quando sentiu cócegas nas suas paredes e ouviu uma voz fina, mas delicada: “ Senhora Casa Grande, Senhora Casa Grande, pode fazer o favor de olhar cá para baixo?”
“Quem está assim a incomodar-me?”- pensou, e não deu resposta à voz. Ás vezes estamos tão habituados a estar sós que não reconhecemos uma boa companhia quando esta nos aparece a frente. Mas a voz era insistente, não se calava: “Senhora Casa Grande! SENHORA CASA GRANDEEEEE!”. Era um ratinho pequeno e atrevido, que não queria ser ingnorado. E continou: “Ou eu estou a falar baixo ou ela está surda e não me ouve! Acho que vou ter de subir pelas suas paredes e falar-lhe ao ouvido. Se bem o pensou, melhor o fez e começou a subir, fazendo mais cócegas com as suas patinhas.
O Edifício não conseguiu ficar calado muito mais tempo: “Eh lá! Quem és tu e porque queres tanto a minha atenção?” Mas depois arrependido da sua reacção tão abrupta, mudou de tom: ” Há já tanto tempo que ninguém conversa comigo que me esqueci das boas maneiras, desculpa não ter respondido logo. Eu chamo-me Edifício Velho e tu quem és?”
“O meu nome é Ratito. E decidi vir explorar o mundo!”
“És valente! E muito curioso, também. O mundo é demasiado grande para um Ratito como tu!”
“Nada é demasiado grande se tivermos vontade suficiente para conhecer e aprender!”- respondeu o Ratito.
“Há tanto tempo que não sei nada do que se passa fora desta rua que vou gostar muito de ouvir as tuas peripecias.”
E assim comecou uma bonita amizade. O Ratito ia explorar o mundo durante o dia e, à noite, passavam belos serões à conversa.
Um dia o Ratito chegou muito excitado com uma notícia que ouvira: iriam fazer uma obras na rua, parece que até já tinham feito um projecto das alterações que iriam ser feitas e tudo!
O nosso amigo edifício ficou logo preocupado, iam haver mudanças e, se calhar, não vinha por ai nada de bom.
Mas o Ratito tratou logo de animar o seu amigo: “nem sempre as mudanças são boas, nem sempre são más. Porque não me deixas averiguar quais são os planos e só então começares a preocupar-te. Não há nada pior do que juízos precipitados.”
O Edifício, muito a contra-gosto, percebeu que o Ratito poderia estar certo. Sofrer por antecipação não ajuda em nada, porque nem traz soluções, nem serenidade ao coração.
Não foi fácil, mas demonstrado muita força de vontade, o Ratito conseguiu descobrir como iria ficar aquela rua depois das obras e foi a correr contar ao seu amigo!
“Descobri que és um edifício muito importante, de tal maneira que querem manter a tua estrutura, estão a pensar só reconstruir a tua parte que está velha e perigosa, para que possas a vir ser habitado novamente. E sabes que já há uma lista com vários nomes de famílias que gostariam muito de vir morar contigo?”
“De verdade?!” – retorquiu o Edificio, “não sabia que poderia voltar a ter uma vida depois destes anos todos abandonado.”
“Vês, desistir nunca é uma boa escolha.”
‘”Temos outro problema para resolver agora: enquanto eu era um edifício abandonado, podias andar a vontade cá dentro, mas tenho dúvidas que, depois de me arranjarem, não te expulsem.”
“Tens razão amigo, já ouvi os engenheiros e os arquitectos falarem nisso. E não entendo porquê. Pensas que sou assim tão indelicado e antipático?”, perguntou o preocupado ratinho.
“Não é por seres tu, penso que as pessoas não gostam de ratos a passearem pela casa. É o tal problema de não dar uma oportunidade a quem não se conhece bem.”
“Pois é, mas isso não resolve nad, vou ter sair daqui e tenho pena porque encontrei um amigo e vou sentir muito a tua falta.”
“E se eu te disser que tenho uma solução para o teu problema? Contigo aprendi a não desistir de encontrar soluções, não iria desitir assim do meu amigo.”
“Então o que posso eu fazer?”
“Lembrei-me que podes ir durante a noite, alterar os planos da construção para que construam um túnel ao longo das minhas paredes onde tu possas andar sem encontar ninguém. Não será fácil, mas como és um rato persistente e inteligente, sei que vais conseguir!”
Assim , a pouco e pouco, foram surgindo alterações no edifício: paredes derrubadas, janelas substituídas, chão mudado, sotão refeito. Ao mesmo tempo, o ratito ia fazendo alterações ao projecto e, quem prestasse muita atenção, verificava que ia aparecendo um pequeno túnel ao longo das paredes.
No lugar do edifício antigo surgiu um edifício renovado, uma nova vida vai começar, uma nova etapa para estes dois amigos. Continuam a partilhar histórias e a Casa Grande vive agora uma vida completamente diferente daquela que imaginara, até tem um tesouro muito precisoso escondido nas suas paredes: o seu amigo Ratito, o Explorardor!