As palavras e as fotografias não gostam de ficar fechadas muito tempo na gaveta…
Dia de S. Martinho
Este é a altura do ano em que se prova o vinho novo. Para alguém como eu, que sempre viveu na cidade, o que sei resulta das histórias que ouvi e das tradições que a minha avó me ensinava, ela sim, nascida e criada em Trás-os-Montes. Este era o dia de comer castanhas, carne assada no forno e, para quem já tinha idade suficiente, beber jeropiga e vinho novo. Durante o jantar, como era hábito, conversava-se acerca de tudo e de nada, mas neste dia, normalmente contava-se a lenda do Santo, S. Martinho, soldado que numa noite fria, ao cruzar-se com alguém sem resguardo, cortou a sua capa ao meio, com a sua espada e sem hesitação, porque devemos sempre repartir os bens que temos. Por isso, enquanto o descascar castanhas nos dava uma boa desculpa para passarmos mais tempo juntos ao redor da mesa de jantar, conversava-se acerca do exemplo deste soldado sem gestos grandiosos ou palavras grandes e difíceis. Hoje fazem-me cada vez mais falta essas conversas onde as palavras fluiam, a empatia era estimulada e a vida era compartilhada, em familia.