
Que eu gosto de piqueniques é dado adquirido. E que, possivelmente eu seria a única pessoa lá em casa que gostava mutito de dias de piquenique também. Talvez fizéssemos um por ano (tanto quanto ir à Feira Popular) e só por minha causa. O lema lá de casa era: “de vez em quando, fazemos coisas que podemos não gostar para deixar os outros felizes” e assim todos tinhamos oportunidade de termos um dia em que nos sentiamos importantes. Porque se alguém faz algo só para nos dar prazer sentimo-nos muito importantes! Sentimos-nos parte do mundo, ou pelo menos, sentimo-nos parte do mundo de alguém, não é? E sabemos que somos “grandes” o suficiente para sermos amados com intensidade.
Talvez por estar habituada a não magoar quem se gosta, aquele gesto de provocação levou a uma reacção tão extrema, talvez por não entender a razão que estaria por detrás daquelas palavras, fiquei tão fora de mim que me levou a prejudicar quem eu queria defender. No final aprendi a lição, que nada é tão importante a ponto de nos tirar a nossa serenidade interior, nada deve ser tão importante a ponto de nos levar a perder a noção do que nos rodeia e a magoar quem não merece, nada é tão negativo que nos impeça de saber quando nos devemos afastar para procurar uma solução com calma.
Lembro-me que foi um “dia perfeito”, o que, na realidade pode ter sido só uma tarde, a memória tem destas coisas em que o tempo perde importância e só ficam os sentidos, os sentimentos, as sensações.
Tinhamos comido, conversado, rido e brincado muito. Eu fiquei com sono e com aquela vontade de me deitar e descansar um pouco. Numa das mantas estava eu e a minha avó e a nossa amiga Mimi começou a brincar comigo a dizer que se iria deitar na manta. Claro que não achei graça nenhuma (já referi que estava com sono?) e comecei a refilar que “ao pé da minha Vóvó fico eu!”
Quanto mais eu refilava, mais a Mimi brincava, pondo um dedo mais próximo da minha avó e mais eu me mexia para não lhe deixar espaço, empurrando, sem querer a minha avó para fora da manta, tendo ficado só com espaço para se sentar. Ao som de “Mimi não” e com o embalar dos movimentos, adormeci atravassada. Sei que depois me mudaram de posição para haver espaço suficiente para as três na manta (não sem antes tirarem esta fotografia) e conseguimos descansar todos um pouco antes de regressar a casa. Ninguém ficou zangado com ninguém, continuámos amigos e esta foi uma história que, mais tarde nos fazia sorrir. Porém, a frase “Mimi não”, ainda hoje me acompanha e quando me encontro em situações em que estou a ser levada ao limite, lembro- me que mais vale parar para pensar e encontrar uma solução, do que “adormecer” a razão e “acordar” para uma realidade em que a minha opinião não foi tida em conta.